terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fora de área - Shark

Ele surgiu no segundo semestre de 1970 e apareceu para o grande público nas páginas da revista Quatro Rodas de setembro de 1970.
Injustiçado ou vilão? Ele ficou marcado como um grande vilão na história, mas na verdade foi um injustiçado. Tinha tudo para dar certo, linhas atraentes, mecânica confiável e projeto bem idealizado. Mas por causa de um rumo tomado pelo fabricante, sua imagem desmoronou pouco depois do lançamento.
Na publicação da revista diz que foi projeto por Walter Ristori, genro do presidente da fábrica de caminhões-tanque e reboques Trivellato S.A., quando na verdade o carro foi trazido dos Estados Unidos, lá fabricado como Kit Car, com o nome de Avenger GT-12. Aqui foi copiado e alterado alguns detalhes da carroceria. O Shark que aparece na reportagem já é um produto fabricado no Brasil.
Sobraram elogios para o veículo e com razão, foi muito bem projetado e com qualidade excepcional de fabricação. Isso porque a tecnologia americana era bem mais avançada que a brasileira.
Talvez um outro erro foi dar a opção de vender somente a carroceria, como nos E.U.A., porque no Brasil essa cultura do "monte você mesmo" nunca foi das melhores e mesmo o fabricante montando com mecânica usada, poderia resultar em veículos ruins depois de algum tempo, não fazendo jus a ótima carroceria. O critério de ter uma mecânica confiável (nova) e com desenvolvimento, sendo sempre iguais em todos os veículos fabricados, traduz em qualidade do produto. Nesse aspecto, a Puma nunca abriu mão, vender carros na forma de kit seria uma venda em massa, mas com resultados indesejáveis, como aconteceu com os buggys, nessa mesma época. Aos poucos, os fabricantes de buggys que vendiam os kit, foram deixando de lado e já há algum tempo, todos os fabricantes só vendem o carro completo.
 Ele poderia ter sido um sério concorrente ao Puma, tomando o lugar deixado pelo Lorena GT. Este nunca ameaçou as vendas do Puma, porque sua disputa era nas pistas. Nas ruas, o Lorena deixava muito a desejar, não tinha caixa de portas, as peças não se encaixavam perfeitamente e sérios problemas construtivos. O que ele tinha, o Lorena, era a beleza, com estilo do Ford GT 40. O Shark por sua vez, tinha esse mesmo estilo, só que um produto bem acabado pelo ótimo projeto.
Outras revistas também noticiaram o lançamento do Shark, como fez a Fatos e Fotos, edição do Salão do Automóvel de 1970.
Mesmo antes de decolar, o Shark foi transformado em vilão dois meses depois, nas páginas da revista Quatro Rodas, novembro de 1970, na seção "Painel" com o título: "Shark, um brasileiro de mentira?" Tudo porque falaram, que foi projetado no Brasil.
Não haveria nenhum problema dizer que era cópia do Avenger americano, ainda mais em uma época em que os "estilistas" brasileiros de automóveis ganhavam importância e força no mercado. Dizer que foi projetado no Brasil pegou mal. Se achavam que não iriam descobrir, pura infantilidade, afinal o Lorena GT de 1968, já era cópia do Ferrer GT americano e todos sabiam. Falar que foi projeto brasileiro para não pagar os "royates" não vejo possibilidade, porque mais cedo ou mais tarde os americanos descobririam. 
Só saberemos da real história sobre o acontecido, se alguém da família um dia contar.
Independente desse acontecimento, analisando o veículo, vemos que teria feito sucesso muito grande no Brasil, se tomadas as diretrizes corretas, de acordo com o público brasileiro. Nos E.U.A., aq Fiberfab fabricante do Avenger GT-12 fez sucesso como Kit Car, porque norte-americano gosta de realizar seus projetos e personalizar veículos. No Brasil de modo geral, ao contrário, o brasileiro não tem tempo, dinheiro para comprar ferramentas e muito menos paciência e habilidade para tal serviço.



Mesmo sendo fabricado para utilização de motores a ar VW, os americanos se aventuram a instalar outros motores, como o caso da imagem abaixo, com um V8 entre eixos.
Voltando ao Shark, sabe-se que foram fabricados cinco ou seis unidades e diversas carrocerias, vendidas com nota fiscal, mas que nunca foram montadas.
Hoje, ouvimos em nosso meio, que ele irá ser fabricado novamente. Pelo que sei, uma pessoa copiou a carroceria e pretende fabricá-lo. O fabricante original, a Trivellato, não vai fazê-lo, por enquanto está montando dois carros da família.
O primeiro é um modelo exclusivo com alguns detalhes diferentes daquele que foi industrializado. Será vermelho vivo e está sendo montado em uma oficina em São Paulo.

 Este Shark tem diversos detalhes norte-americano, como maçanetas, lanternas e suportes.
 Duas personalizações da época, afinal esse Shark é do fabricante. As tomadas de ar para o interior do veículo com ventilação forçada e o teto solar dividido...
 ... Em duas partes, com tampas removíveis...
 ... Criando uma boa área de insolação/ventilação.
 Internamente o console integrado ao painel e carroceria, formando uma peça única.
 Outras diferenças são os vidros laterais traseiros - nem o americano tinha - e as pequenas tomadas de ar na coluna, como nos modelos americanos. O Shark brasileiro não tinha essa tomada de ar. As maçanetas de botão, como no americano.

 Mesmo sem nenhuma peça montada, o Shark demonstra sua beleza.

 Este outro Shark, que será dourado como aquele da revista. Este não tem o vidro lateral traseiro, as maçanetas são de Ford, as tomadas de ar para o interior do veículo são divididas, tudo exatamente como era o Shark 1970.
 Internamente painel similar ao modelo americano, mas com um console abrangendo todo o túnel do chassi.
 As lanternas traseiras eram as mesmas utilizadas nos caminhões do famoso refrigerante. Para-choques no estilo GT Malzoni do início ou Corvette.
 Este Shark tem as rodas "palito" originais e as maçanetas da camioneta Ford. O para-brisa é do Maverick. Isto já era no Avenger. Para o Brasil a Trivellato teria que mandar fazer, pois o Maverick só chegou aqui em final de 1972.

Depois de 43 anos vamos ver nas ruas e exposições, aquele que não vendeu, mas ficou tremendamente famoso.

12 comentários:

Fernando Bessa disse...

Muito boa matéria, Felipe parece muito com o Lorena Gt, muito bonito.
Abraço Fernando Bessa

Anônimo disse...

Isto é bem interessante: http://sharktrivellato.blogspot.com.br/

Juanh disse...

Hermoso, tiene un parecido al Ford GT40 y Lola T70.
Abrazos!

Mario Venditi disse...

Quem seria esta pessoa que dizem que vai fabricar ? Seria o Kit ou carro montado?

Felipe Nicoliello disse...

Não sei detalhes Mario,
A pessoa é bem conhecida em nosso meio, mas não estou autorizado em falar.
Veja com a família Trivellato, talvez lhe vendam a carroceria, eles ainda tem os moldes. É o anônimo nos comentários, onde cita seu blog.

walter ramos disse...

Gostei mesmo das GATAS.
Charmosíssimas.
A fera deixo para os experts comentarem.

Marcos Gagliardi disse...

Vi este carro num sábado, na oficina...

alberto Suspentecnica disse...

Ola Felipe.esse segundo carro é meu e estou fazendo exatamente como o da revista. Parti do "0" e será uma longa empreita. Os custos inviabilizam o aspecto comercial e no meu caso, é um sonho desde criança. Voce ainda verá ele por ai. Abços

Felipe Nicoliello disse...

Certamente verei Albertinho.
Desculpe, Alberto.
Como lhe conheço desde criança, ainda não perdi o costume. rsrs
Não somente verei, como acompanho o desenvolvimento do veículo na oficina.

Sergio Trivellato Ristori disse...

Prezado Felipe,

Parabéns pela matéria, só corrigindo... Não fui eu que postei o endereço do meu blog, mas obrigado para o Anônimo que o fez...
Quanto ao Shark, na verdade pelo que sei, e segundo minha mãe, foram fabricados por volta de 40 carros, (inclusive um que marcou a lembrança dela que era vermelho com interior de pelica branco), entre carrocerias e carros ja montados, hoje conhecemos o paradeiro de apenas 5 carros .
O meu exemplar é da família desde 1970 e como histórico, tenho ainda a nota fiscal da Trivellato. Este foi o protótipo, ou seja, tem ate a plaqueta de numeração SRK 0001. Nele foram feitas todas as modificações que podiam ser encomendadas pelos clientes na época, tais como o teto solar duplo, janelinha lateral, entrada de ar quente e a ventilação forçada, inclusive acredito que tenha sido este o carro o mencionado na revista do mês de novembro pelo meu pai.
As rodas da foto estavam nele somente enquanto estavam sendo arrumadas e polidas, mas hoje já estão nele . Quanto as lanternas não são importadas, são do conhecido caminhão da Coca Cola e as maçanetas são somente os miolos da Variant 1 e Zé do caixão , e também não são importadas .
O Motor original do SRK 0001 é um Porsche 2.2 com dupla carburação Weber 48 e radiador de óleo, o qual esta sendo reformado em uma oficina especializada em motores a ar e tão logo esteja pronto voltara para o carro.
Como vc freqüenta a oficina onde ele foi restaurado, sabe que já estou na faze final e logo-logo ele poderá ser visto nas ruas e quem sabe em Águas de Lindóia do próximo ano.
Fico a disposição para marcarmos uma matéria do meu carro pronto.

Abraço

Sergio

CorredorX2002 disse...

Sergio, bela matéria. Quieto ver o carro em seu estágio atual.

Abs

Othon Armada

Daniel Pardo disse...

Eu vi matéria sobre esse carro na Fusca & Cia, eles falaram sobre uma história envolvendo esse carro, mas só aqui no blog eu soube direito qual foi, pois na revista eles não falaram com detalhes.