Como havia prometido, a história completa desse Rally contada pelo meu amigo Marcos Pasini, que estará lançando o livro sobre motocicletas "1967-O Começo de uma Paixão" (http://www.motosclassicas70.com.br/), no dia 29 de novembro de 2008 (sábado), no Shopping Moto & Aventura, na Alameda Barão de Limeira, 71, S.Paulo-SP, em frente à Silverstone (Loja 12) e à Livraria Nobel (acesso pela Av. S. João, 1086) - térreo, das 10:00hs às 14:00hs (http://www.biblioteca24x7.com.br/). Vamos ver os documentos, as fotos inéditas e viver a história contada por Marcos V. Pasini, Engenheiro da Puma de 1979 a 1982 e co-piloto no Puma GTI numeral 443 no Pepsi Trans-Chaco Rally de 1980: PEPSI TRANS-CHACO RALLY 1980 No começo do segundo semestre de 1980, por conta do incentivo de Mario Figueiredo (corredor de rallye de velocidade), a Puma tomou a decisão de, após alguns anos afastada das competições, participar do Pepsi-Trans-Chaco Rallye, que aconteceria em setembro daquele ano. A diretoria da Puma decidiu, então, preparar dois veiculos modelo GTI, sendo que em um deles eu faria dupla com o dono da representação da Puma em Assunciòn, Osman Benitez Vera, e o segundo veiculo seria pilotado pelo, na época, Diretor Comercial da Puma, Luiz Carlos Costa e navegado pelo seu assistente Marino Baldocci. A categoria em que nossos veículos poderiam se enquadrar seria o Grupo 01 - classe B (de 1301 a 1600cm³). Os veiculos que seriam montados especialmente para este evento teriam as seguintes características: . modelo: PUMA GTI 1600 - c/ preparação especial (alivio de peso e acessórios especiais para rallye) . motor: VW AR1600cm³ - Boxer 4 cilindros, refrigeração a ar, carter seco, com radiador de óleo, taxa 9:1, comando P27 e dois carburadores duplos Solex 40/40. . combustível: gasolina aeronáutica . transmissão: Puma-Kit - caixa 3 . rodas (diant/traz): 6Jx14” . pneus (diant/traz): 185/70 R14 – Pirelli – “cidade/campo” A equipe de apoio comandada por Waldemar Stoicow iria com um caminhão Puma 4T Baú. Como tinhamos pouco tempo, enquanto os pilotos e co-pilotos iriam fazer o reconhecimento do circuito juntamente com o pessoal do Osman, lá no Paraguay, na Puma, em São Paulo, os veiculos continuariam a ser preparados, sendo levados, posteriormente, rodando para amaciar os motores, junto com o caminhão de apoio. Partimos antes, então, para Assunciòn, para fazer nossa inscrição e começarmos a organizar a viagem de reconhecimento da rota, que seria acompanhada por dois grandes conhecedores do Chaco, e que trabalhavam com Osman, cujos nomes não me lembro, agora. Como o meu parceiro Osman Benitez, não se encontrava na cidade, fomos para o reconhecimento somente o Luiz Carlos, Marino, eu e mais os dois paraguaios que seriam nossos guias. No dia seguinte, em uma antiga Perua Jeep 4x4, abastecida com mantimentos e agasalhos, partimos de Assunciòn rumo ao Chaco. Já passava da meia-noite quando tomamos o sentido nordeste, rumo a Pozo Colorado por uma rodovia asfaltada, onde chegamos quase amanhecendo o dia. Passando por Pozo Colorado, tomamos à esquerda no Empalme (entroncamento) General Diaz, rumo leste. Dai para frente acabaria o asfalto e começaríamos a viajar em um terreno de terra bem fina, chamada por eles de “polo”, ou seja, pó, anotando os pontos de referência em nossas planilhas. O “polo” entranhava em todas as juntas de portas e vedadores da perua, deixando tudo dentro do carro bastante empoeirado. A vegetação do Chaco Paraguaio é composta por mato baixo e seco, semi-desertico, onde encontram-se muitas espinheiras, com pontas de 10 a 15cm que furam um pneu sem o menor esforço. Paramos para dormir dentro da perua, mesmo, em um local ermo chamado Forte Boqueiròn, onde chegamos, perto das 23:00hs. Logo cedinho continuamos o trajeto até Mariscal (Marechal) Estigarribia, que seria um “breack point” importante entre a primeira e segunda etapa e entre a segunda e terceira etapa, durante a competição, para refeição e pernoite dos pilotos e equipes. Passamos por Mariscal e prosseguimos para a que seria a segunda etapa da prova. Essa segunda etapa começava em Mcal. Estigarribia, rumo leste, passando por Forte Tte. Prats Hill, onde existe uma pequena base aérea. Mais adiante fica Sta.Rosa, o ponto mais próximo da Bolívia e prosseguindo chega-se a Tte. Enciso, extremo oeste do trecho, para a daí retornar a Mcal.Estigarribia rumo leste por outra rota, concluindo, assim a segunda fase. Rodamos o dia todo, anotando detalhes, pontos de referencia e outras marcas que nossos concorrentes colocavam, também para se referenciarem. Chegamos em uma cidadezinha, chamada Filadélfia, quase já em Mariscal, e lá pudemos usufruir de um chuveiro, banheiro e de uma cama para poder esticar as pernas. Em Filadélfia, encontramos o Mario Figueiredo e o Helmut, seu parceiro, que correriam em dupla pela equipe “Corujão” em um Volkswagen Sedan 1600S, também fazendo o reconhecimento do circuito. Após a remoção do “polo” do chaco em um banho revigorante, roupas limpas e tudo o que tem direito um homem civilizado, partimos caminho de volta para a terceira e última etapa da simulação do rallye. O caminho de volta seria menos desconhecido, porém, as referências precisavam ser anotadas e demarcadas e, mesmo cansados tínhamos que concluir nosso reconhecimento. Chegando à Assunciòn ficamos aguardando a chegada do pessoal do Waldemar, com o caminhão de apoio e os dois veiculos. Bem tarde da noite, o pessoal chegou só com o caminhão de apoio, dizendo que os veiculos ficaram retidos pela policia paraguaia próximo a, hoje, Ciudad del Este. Pegamos os documentos faltantes (não me lembro agora quais eram) e fomos com o caminhão-baú buscar os carros. Chegamos no posto policial quase clareando o dia, resolvemos o problema policial e retornamos à Assunciòn. Chegado o dia da vistoria e tomada de tempo, os dois Puma GTI “verde e amarelo” chamavam a atenção de todos os concorrentes. Não me lembro, bem da nossa posição de largada mas ficamos no “pelotão do meio” próximos, ao Fusca da equipe “Corujão”. No dia seguinte à noite, estávamos prontos para a mais importante competição automobilística internacional do Paraguay. Os veiculos de numeral “443” (o nosso) e o “428” (Luiz Carlos e Marino) estávam já carregados com dois pneus estepe e mantimentos, onde tinhamos, bolachas, torradas, enlatados e água. Nossa posição de largada era em torno de uma hora de diferença do pole. Dada a nossa largada, o Osman foi tocando o GTI “443” por dentro de Assunciòn até atingirmos a rota sentido nordeste. Chegando ao Empalme Gal. Dias, viramos sentido leste, já clareando o dia, e saimos do asfalto. O Osman tocou o carro pisando fundo, fazendo o motor virar sempre a 6000rpm, até o acesso a Paratodo, sentido norte. Dai para frente, a pista estava um sabão. Devia ter chovido na madrugada, e devido às características da terra no chaco, a água da chuva forma uma camada escorregadia de lodo por cima do chão seco, que custa a ser absorvida pela terra. Então o carro “flutua” em cima dessa camada, como se fosse no gelo, sendo necessário o co-piloto subir, por fora, atrás do carro, onde tem um dispositivo de segurança para esse fim, e balançar para cima e para baixo a traseira (quando a tração é nas rodas de trás) de modo que a roda tracione no barro. Por conta de uma derrapada, saimos da pista indo parar dentro do mato repleto daquelas espinheiras com pontas de lança, o que resultou em dois pneus furados. Como tínhamos dois estepes, trocamos os pneus, em meio a muita lama, e prosseguimos a prova. Trocamos, então, de pilotos para que o Osman descansasse um pouco. Eu, também cansado, não estava conseguindo pilotar direito, deixando o carro escorregar muito, o que acabou resultando em mais uma saida de pista e mais um pneu furado, só que agora sem estepe para substituí-lo. Porém, como já estávamos próximos a Mcal. Estigarribia, fomos mesmo com o pneu furado, até o acampamento da Puma. Chagando lá, logo soubemos que o Puma GTI “428” tinha quebrado uma das barras de direção (a maior) e fora rebocado até a nossa base, o que causou a sua desclassificação. Foi aí que verificamos que em alguns VW Sedan que corriam na prova, a barra de direção maior tinha um reforço tubular externo. Mas a essa altura, não teríamos mais tempo de preparar uma peça para o nosso carro, então o jeito foi, por precaução, trocar nossa barra por outra original VW e tentar pilotar o mais suavemente possível no dia seguinte. Enquanto isso o veículo do Luis Carlos e do Marino, que já tinha tido sua barra substituida, retornaria rodando à Assunciòn. Saimos no dia seguinte, um pouco mais calmos e rodamos bastante com certa tranquilidade pois a pista agora era mais larga, e com menos buracos, pelo menos nos primeiros 100km. A partir de Demattei, pegamos um trecho com costelas de vaca muito grandes que faziam o carro pular, o que resultou na quebra da nossa barra de direção, também. Paramos ao lado da pista e ficamos aguardando passar todos os concorrentes, pois por último passaria o caminhão de resgate que poderia nos levar de volta à base em Mcal. Estigarribia. Já escurecendo, chega o caminhão, um Mercedez 6x6 do exército paraguaio. Por sorte, não tinha outro carro quebrado e a carroceria estava disponível. Colocamos o GTI no alto de um barranco para podermos alcançar a carroceria super alta daquele caminhão e empurramos o carro para dentro. Carro embarcado e desclassificado naquele momento, partimos de volta à Mariscal. . Já jà noite, na metade do caminho, chegamos na base aérea de Prats Gill, e o Osman conseguiu um voo de retorno à Assumciòn, com um amigo, e me convidou pra voltar com ele, mas preferi seguir junto com o carro até a base da Puma. Foi uma das piores e mais demoradas viagens de que me lembro. Lá pelas 8:00hs da manhã do dia seguinte, chegamos em Mariscal Estigarribia, após passar a noite toda acordado e sacudundo na caçamba daquele 6x6 a, no máximo, 60km/h. Descarregamos o GTI e trocamos a barra para nos prepararmos para a volta. Pedi para um dos amigos paraguaios que nos acompanhara no reconhecimento com a Perua Jeep, dirigir o GTI e voltei à Assunciòn dormindo no “banco-concha” do co-piloto que, a essa altura, já não me parecia mais tão desconfortável. Essa edição do Trans-Chaco, apesar dos problemas mecânicos, animou a Puma a continuar participando dessa categoria, no campeonato brasileiro agora, com motores AR 2000 à álcool. Mas essa é uma outra história. Marcos V. Pasini
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4 comentários:
Muito interessante Felipe.
Realmente o histórico de puma aqui, ta muito rico. Todas as informações ao alcance das mãos, digo, dos olhos...
Parabéns, de novo.
Axé.
Mestre Felipe, Parabéns!
O blog está show...
Abraço
Agnaldo Murilo
GTS 79 - Maringá, PR
Hola, soy Paraguayo, no estoy seguro que año pero mi padre corrio con uno de esos autos despues. Esos autos quedaron en Paraguay, fue comprado por un amigo de mi padre pero ahora ya no tengo idea donde terminaron. Felicidades por la pagina
El Rally del Chaco es muy emotivo, nunca supe que los Puma corrieron ahi!!! que grata sorpresa, yo tengo un Puma en Asuncion, y para mi es lo maximo, Yagua como podemos ponernos en contacto...?
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