sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Puma 6.T - Inédito

Até hoje vocês só tinham ouvido falar de nome do caminhão Puma 6T. Hoje publico foto inédita do modelo que não chegou a ser fabricado pela Puma em São Paulo. Nem depois em Curitiba este modelo foi fabricado. Apesar de muitos não darem importância ao foto, por ser caminhão, isto prova a capacidade técnica da Puma e se tivesse tido apoio, hoje seria uma gigante brasileira. Mas antes de publicar, mandei a foto da criação para seu criador, o engenheiro Ronaldo de Almeida Brochado, que projetou este caminhão. Vejam sua resposta:
"Boa esta, Felipe! É presente de Natal? Para mim uma verdadeira 'bomba de alegria' ...de efeito retardado, lógico! Para mim é como ver pela primeira vez, um filho de 30 anos... só agora!
Só posso relatar o seguinte, finalizei o projeto e entreguei para o Milton Masteguin, desenhado em 'papel sintético' poliéster da Du Pont, marca comercial Mylar e não montei, nem o primeiro protótipo, para mim este 6T foi tudo no papel. Naquela época, foi muito fácil, pois eu estava com tudo do 4T bem nítido na memória, até os teste com células de carga eletrônicas já feitos na UNICAMP, com a equipe do Professor Augusto Rui. Mas não acompanhei novos testes para o 6T, mais pesado.Quando eu já ia saindo da Puma -aviso prévio em meados do 2° semestre de 1979- me impuz (até por satisfação própria!) terminar o básico deste projeto:
a) Chassi recalculado e redimensionado (idem para suportes de molas, novas molas, travessas e longarinas com nova furação);
b) Novo posicionamento da cabine (no 4T ela era mais para trás por limitações de carga no eixo dianteiro);
c) Novo eixo dianteiro e traseiro (com mais redução);
d) Pneus com mais capacidade de carga;
e) Novo cardan dimensionado junto à DANA (de nome Albarus, naquela época! Acho que ainda era nacional).
Qualquer pergunta tua pode ser acrescentada, mas lembro que foi jogo rápido! O caminhão é muito simples mesmo. E já tínhamos a cabine do 4T e os projetistas estavam bem treinados. Muitos depois foram para a Scania, VW, etc. Ronaldo."

Então vamos as perguntas em entrevista com o engenheiro Ronaldo Brochado.

Felipe: Qual o motor que seria utilizado? O cambio seria o mesmo do 4T ou teria reduzida?
Ronaldo: A princípio lembro que o eixo traseiro -mais reduzido- já resolveria bem este problema, que passa sempre pela questão de 'rampabilidade' e evitaria um custo maior com uma caixa. de câmbio especial, pois sempre buscávamos as melhores ofertas. Mas também já tínhamos a Clark em contato para algum pedido especial de câmbio, mais reduzido ainda, afinal a nossa inspiração inicial era a 'CCC' - Crane Carrier Co. de caminhões sob encomenda, que até arrastou asa para o lado da PUMA: não cobraria royalties em troca de uma futura participação nos negócios de caminhões.
Felipe: Se o motor era maior, o espaço interno da cabine não ficou prejudicado?
Ronaldo: Boa pergunta, mas lembro que a motorização seria igual... MWM ou Perkins (este muito apreciado em regiões montanhosas por ter bom torque a baixas rotações). Aqui lembro, novamente, o fato de manter tudo recuado no 4T... No 6T foi possível avançar mais com a mecânica e com a cabine: assim permitindo um entre-eixos menor, mais agilidade e menos momento fletor no chassi (o que permite longarina mais leve). Mo=Momento Fletor=esforços que provocam a flexão sobre cargas nas longarinas e que se tornam críticos com o "veículo inclinado lateralmente + carga alta + efeito de frenagem" (resultando 'esforço máximo, sem uma das longarinas... Na região logo atrás da cabine: exatamente onde muitos caminhões velhos partem ao meio! Algo que também ocorre em estradas muito esburacadas).
Felipe: As longarinas do chassi eram muito mais largas que o 4T?
Ronaldo: Se me lembro bem era assim: mais uns 25mm na altura do "C" da viga e poucos milímetros mais larga nas abas, evitei medida de chapa maior que 1/4". Ainda cito que o fornecedor FNV( agora nas mãos da Maxion, grupo originário daqui do Sul do Brasil), que era o mesmo dos outros caminhões: “em aço especial normalizado LN - 26".
Como o chassi era mais alto (vigas 'C' com mais uns 25mm) isso já influenciou o 'parachoques', que era fixado por fora das abas das longarinas!
Felipe: Você lembra do comprimento do 6T?
Ronaldo: Aí me pegaste, mas talvez com mais comprimento em cada 'entre eixos' ofertado, no 4T eram '3 opções de entre eixos'!
Felipe: Na largura, a cabine era maior que o 4T? Ou somente o chassi? Ou nenhum dos dois, era tudo igual?
Ronaldo: A cabine era a mesma. Sendo que a largura do chassi era padrão mundial: 34" ...Medidas por fora das longarinas (assim: >[.......]<). Para acomodar os pneus foi colocado um extensor de para-lama na cabine. Com certeza já percebeste que o estribo de acesso à cabine vai para a frente do pneu. Com essa cabine mais avançada, assim mudando o visual geral. Felipe: Sendo novos os eixos, o que mudava nas rodas?
Ronaldo: O eixo traseiro com mais capacidade já teria o projeto de mais parafusos, sendo 8 parafusos para fixação das rodas, ante os seis do 4T.
Outro detalhe do 6T, que já tinha 'sobremola': no 4T os próprios donos é que colocavam por achá-lo muito forte!

6 comentários:

Unknown disse...

Meu proximo plastimodelo ;D

Valeu pelas informações!!

BJundas
Lima

Claude Fondeville disse...

Lembro que a Volkswagen Caminhões também começou pequena, com veículos deste porte, os carreteiros brincando os chamavam de "fusca". Hoje é uma das maiores montadoras de veículos pesados do país. É claro que o nome Volkswagen (qualidade) ajudou mas o produto é bom.
A Puma certamente teria hoje em dia também uma boa faixa de mercado(com fornecedores Dana, MWM, Michelin). Lembro bem dos simpáticos pequenos caminhões de entrega com aquele emblema Puma na frente.
De vez em quando aparece um para vender, porém por ser veículo profissional ainda muito caro para o meu bico.
Gostaria de ir na reunião do Puma Club no Rio com um destes, todo reformado. Já pensou a surpresa do Pontual e do Péricles :-0

Jovino disse...

Felipe, a companhia de energia aqui de brasilia tem caminhões Puma de cabine dupla, vi um deles um dia destes nas ruas. Não sei qual a mecânica, não me lembro.
Jovino

Felipe Nicoliello disse...

Claude,
A Volkswagen Caminhões começou com a compra da Chrysler do Brasil. A primeira coisa que os alemães fizeram foi parar a produção dos Dogde Dart e 1800, concentrando suas forças nos caminhões, que era a intenção da VW. Lembro que em 1980, minha irmã trabalhava na Chrysler, no departamento de Marketing e ela me contou que os dirigentes alemães chegaram no departamento de engenharia e falaram para todos engenheiros, que anotassem tudo aquilo que eles achavam errado nos caminhões Dogde, mesmo que tenha sido seus próprios projetos. E assim nasceu o caminhão VW, com diversas correções dos caminhões Dogde. O que influenciou no público foi uma somatória de dois fatos, os caminhões Dogde eram bons, mas com uma péssima assistência técnica e falta de peças; Já o nome VW trazia tranquilidade e confiança na manutenção do produto. Ouvi de muitos caminhoneiros sobre os caminhões VW no início de produção: "-Ele é bom, por baixo é um Dogde." E isso não era verdade, era melhor que um Dogde, um aperfeiçoamento.

Jovino,
Esses caminhões que você ainda vê nas ruas, são os modelos 4T da Puma, 914 e 7900 da Alfa Metais, que fabricou muitos 914 CD, foram os primeiros e 7900 CD os últimos fabricados. CD = Cabine Dupla. O 6T nunca foi fabricado em série e esta foto é muito rara, de um único caminhão fabricado em São Paulo.

Anônimo disse...

Ok, Felipe!

Agora, conta a história desta foto p/nós.

Ronaldo

Felipe Nicoliello disse...

Ronaldo,
Veio de fora do Brasil, como sempre eles tem mais coisas que nós. A fonte não quer divulgação.
O importante é que temos a imagem de sua criação. Agora uma pergunta, onde será que foi parar esse caminhão? Já pensou achá-lo? Seria uma raridade, porque não se tem notícia de outro fabricado.